Paulinho Branquelo

Era uma vez um menino que não sabia sorrir. Estava na idade em que todos os garotos gostam de jogar futebol, andar de bicicleta, skate, se divertir. Mas Paulinho não. Vivia sempre sozinho trancado em seu quarto, não sabia brincar e nem gostava, não tomava sol e por isso era pálido, muito pálido. Tão branco que mais parecia uma vela, pois seus olhos azuis pareciam duas chamas quase se apagando. Nunca saia de casa e quando saia as crianças da rua caçoavam dele dizendo:

- Lá vem o branquelo! Lá vem o branquelo! - Não sabiam sequer o nome dele.

Paulinho tinha medo de fazer amigos, porque não queria que ouvissem o barulho que seu tênis fazia toda vez em que andava, ou que vissem suas bochechas vermelhas todas as vezes em que caia e batia o bumbum no chão. Não saia de casa porque tinha vergonha quando sua mãe pegava na sua mão para atravessar a rua. Vivia sempre sozinho e não sorria porque dizia que suas bochechas doíam todas as vezes que tentava sorrir.

Era uma vez um menino triste, porque não tinha amigos. Mas vivia curioso, queria saber o que acontecia na casa vizinha, que tinha tanto barulho. Era uns batuques, pancadas, gritarias, gargalhadas. Às vezes Paulinho ficava com medo, parecia que ao lado da sua casa havia uma casa de loucos, um manicômio. De manhã não sai no sol porque queimava a sua pele e ardia e a barulheira no manicômio era tão grande que vivia assustado debaixo dos lençóis.

- 1, 2, 3 e jáááááá !!! Viva eu peguei!!!

Marcinha vivia dando gargalhadas e não sabia fazer outra coisa a

não ser pular, cantar e brincar. Seu sorriso era tão contagiante, que o sol brilhava mais forte todas as vezes que olhava para ela. Marcinha vivia curiosa, queria saber o que não acontecia na casa ao lado da sua, para aquele menino ser tão triste e branquelo.

Um dia a bola de Marcinha caiu, quase sem querer, no quintal do menino triste que estava sentado na varanda se escondendo do sol. Quando ele viu a bola, tentou pega- la mas tinha medo que os garotos da rua ouvissem o barulho que seu tênis fazia ou que vissem suas bochechas rosadas caso batesse com o bumbum no chão. Então ficou parado, sentado ali mesmo, abraçando suas pernas e com a testa nos joelhos.

Marcinha não esperou. Pulou o muro e foi procurar a sua bola.

- Com licença! – gritou ela. - Posso pegar a minha pula pula?

Paulinho levantou a cabeça:

- Que coisa estranha !- Pensou o menino triste. Será que as suas bochechas não doem de ficar com a boca esticada? Seu tênis também faz barulho quando anda, será que não sente vergonha? No mesmo instante , Marcinha também o observava:

- Nossa, que cara estranha! A boca é murcha! Será que suas

bochechas não doem? Será que seu tênis não faz barulho, por isso vive parado?

Foi então que Marcinha, com grande simpatia, chegou perto do menino e exclamou:

- Vamos brincar na minha casa? É ali ao lado, eu empresto o meu tênis para você, ele faz um barulho legal todas as vezes que ando. O seu não? E as sua bochechas não doem quando você não sorri? ...

Então o menino triste percebeu que tudo o que era ruim para ele e o que o envergonhava, era brilhante e legal para Marcinha. No inicio as bochechas dele doeram quando começou a sorrir, mas o tênis dela também fazia snif, snif igual ao seu.

- Qual o seu nome? perguntou a menina.

- Paulinho.

- Oi, o meu é Marcinha.

Paulinho foi contagiado pelo brilho e alegria de sua nova amiga,

quando brincava com ela, se esquecia que sua pele ardia no sol, não ouvia seu tênis fazer snif, snif, porque o snif, snif do tênis de Marcinha era mais alto e percebeu que se ele batesse o bumbum no chão ninguém ia perceber suas bochechas vermelhas, porque elas ficam vermelhas antes, quando ele corria, igual às de Marcinha .

Paulinho e Marcinha formaram uma boa dupla, e naquela rua, agora, havia mais uma casa de loucos.


By  Liz

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