O dia em que resolvi dar uma paquerada

Eu tinha uma melhor amiga, o nome dela era Carlinha. A gente se dava muito bem e falava de tudo quanto era coisa e também a gente adorava rir dos outros. Do Seu Manoel que andava arrastando os chinelos no chão da calçada, da Dona Candoca de vivia de bobes coloridos na cabeça, do Seu Luis que mais parecia uma chaminé com aquela fumaça que saia do seu pito e até da minha avó que vivia com um pentinho marrom grudado no cabelo nem sei porquê.

Um dia minha mãe pediu para ir à padaria para comprar pãozinho fresco pra ela. Então chamei a minha amiga Carlinha, que morava na mesma rua que eu , para me fazer companhia e assim a gente aproveitava para rir um pouco.

Para chegar na padaria a gente tinha que passar por uma passarela, dessas que o trem passa por baixo e tinha uns 798 degraus para subir e descer. Quando a gente estava voltando da padaria e já estava subindo o segundo degrau da passarela, a Carlinha disse " Olha dos dois gatinhos que tá vindo aí". Fiquei tão nervosa, eu ainda não tinha treinado a paquerar, mas mesmo assim resolvi dar bola. Só que essa decisão me deixou as pernas tão tremendo que, quando fui subir o terceiro degrau meu pé pisou na beiradinha e eu escorreguei. Fiquei com medo de cair e os meninos rirem de mim, e quanto mais tentava me manter em pé mais eu escorregava. Foi quando não deu pra segurar e cai ajoelhada em cima do saquinho de pãozinho fresco que a minha mãe tinha encomendado. Eu fiquei tão desesperada por estar amassando o pãozinho fresco da minha mãe e tão envergonhada por ter caído na frente dos meninos, que eu tentava tirar o saquinho debaixo dos meus joelhos ainda ajoelhada. Foi quando percebi 4 pés passando do meu lado. Parei estaqueada do jeito que seu estava e olhei, olhei mesmo. Não deu pra ver a cara dos meninos, mas os tênis estavam bem sujos, um deles tinha até chulé. Me levantei depois de muito sapatear , eu sentia as minha bochechas arderem de tão vermelhas que estavam, olhei pra trás para ver se eu conseguia ver os meninos e dei de cara com a Carlinha roxa ,de boca aberta e olhos esbugalhados tentando decidir o que faria primeiro, se me ajudava a colocar os pães dentro do saco que a essa altura já estava todinho rasgado ou dava aquela gargalhada. Então a gente sentou ali mesmo no terceiro degrau e rimos tanto que fiquei até com dor de estômago de tanto rir que até chorava. Naquela tarde a minha mãe me fez sopinha de pão, porque eles estavam muito amassados para comer com margarina.

E foi assim que eu aprendi aquele ditado que a minha avó sempre me disse "não cospe pra cima, menina, que um dia cai na cara."



By  Liz

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