A menina que queria mudar o mundo

Marcinha era uma garotinha de 8 anos muito alegre e inteligente. Adorava suas bonecas, gostava de jogar bola e pular corda com as amiguinhas. Seus pais lhe davam amor e segurança. Marcinha sabia que todas as manhãs acordaria com um beijo de sua mãe lhe despertando para se aprontar para ir à escola.


Lá, o que mais gostava era da hora da leitura. Em cada livrinho Marcinha se transportava para dentro dele e vivia as maiores aventuras. Visitava a vovó de Chapeuzinho Vermelho, avisava Branca de Neve para não comer a maçã, achava o convite perdido da Fada da Bela Adormecida e até ajudava a procurar Feiurinha. Mas havia algo que entristecia Marcinha. Ao assistir os noticiários de TV, notava que o mundo precisava de um super- herói , de um Batman, as Meninas Super Poderosas ou até mesmo o Máscara para acabar com a violência. E então um dia acendeu uma luz dentro da cabeça de Marcinha. Ela poderia mudar o mundo, não tinha o dedo verde, uma fada madrinha ou um pequeno príncipe ao seu lado, mas poderia tentar.

Havia um garotinho da escola que se chamava João, muito inteligente porém, não tinha possibilidades de levar uma lanche para a escola, seus pais trabalhavam o dia todo catando papelão na rua para dar o que comer a Joãozinho. E numa certa manhã, dessas que o frio parece querer rachar o nosso nariz, Lúcia , uma garota orgulhosa que não gostava de se misturar, estava com frio, embora tivesse mais agasalho em casa achou que aquele lhe bastaria, mas na escola batia muito vento e era muito gelada. Quando Marcinha percebeu, tirou o seu poncho e emprestou para a sua amiga, que logo ficou quentinha. Marcinha ficou satisfeita e com o calor que vinha do seu coração nem sentiu falta do seu agasalho. Na hora do recreio Lúcia quis retribuir o carinho que sua amiga lhe fizera e ofereceu um de seus dois lanches. Marcinha até pensou que poderia estar saboroso, mas tinha o Joãozinho que talvez estivesse com fome, e pediu para Lúcia que não devolvesse o seu favor, mas que passasse adiante. Joãozinho saboreou aquele delicioso lanche, nunca havia comido algo tão bom. Lúcia ficou tão feliz e satisfeita por Ter feito isso que nem sentiu falta do lanche que repartiu. No dia seguinte, Joãozinho quis retribuir à Lúcia o lanche que havia lhe dado se oferecendo para ajudar no problema de matemática. Lúcia até que gostou da idéia, mas lembrou de Caio que era menino muito forte e muito bom em jogos escolares, porém, péssimo nesta matéria. Pediu para Joãozinho que não lhe devolvesse o favor, mas que passasse adiante. Caio conseguiu entender o problema. Com a explicação da professora e a ajuda de Joãozinho tudo ficou mais claro. Joãozinho ficou feliz por te- lo ajudado, e não se sentiu com menos inteligência por ter repartido o seu conhecimento com o amigo. Na semana seguinte Caio quis retribuir ao amigo a ajuda que recebeu. Mas Joãozinho, sempre inteligente pediu para que não lhe devolvesse a ajuda, mas passasse adiante assim que pudesse. No final da aula, Caio percebeu que o carro da professora não queria pegar e lembrou do que Joãozinho havia lhe dito. Como era um garoto forte não teve dificuldade de dar um empurrãozinho no carro da professora, que ficou aliviada por não se atrasar para o próximo compromisso, e disse automaticamente aquela frase que quase todos os adultos costumam dizer: "Nossa, nem sei como te agradecer." Caio podia não ser bom em matemática, mas era esperto, aprendeu a lição que Joãozinho havia lhe ensinado e respondeu à professora que não queria que lhe devolvesse o favor, mas que passasse adiante assim que pudesse.

A professora Sofia a princípio ficou sem ação, pois a frase que dissera realmente havia sido sem pensar. Notou então que a frase pode ser automática para um adulto, mas um adolescente ainda entende a frase inteira. Enquanto se dirigia para próximo compromisso, foi pensando no que Caio havia lhe dito. Chegou em cima da hora para a reunião e foi acolhida pelo sorriso de todos os que estavam ali. Era uma reunião na comunidade onde morava. Havia muitos jovens naquela comunidade; falavam sobre eles quando a professora Sofia comentou com os amigos a maneira como Caio havia encarado aquela frase "automática". Uma das pessoas ali presente teve a idéia de trabalhar com os jovens diversos assuntos, pelo menos uma vez por semana, formar uma reunião de jovens. essa idéia virou realidade e teve sucesso. A professora que estava sempre à frente dessa reuniões um dia recebeu alguns pais que vieram lhe agradecer pela diferença que essas reuniões haviam feito em suas vidas e que queriam retribuir essa ajuda. A professora, então, lembrou a lição que aprendera com Caio e pediu para que não lhe devolvesse a ajuda mas que passasse adiante. Esses pais saíram de lá pensando como poderiam passar adiante quando uma das mãe lembrou da avó de Marcinha que não podia andar e por isso vivia em seu quarto sem sair de casa. Fizeram uma vaquinha e compraram uma cadeira de rodas, já que os pais de Marcinha não teriam essa possibilidade. – Nunca a vovó esteve tão feliz – disse Marcinha saltitante. E quando a Vovó Lourdes perguntou àqueles bondosos vizinhos o que poderia fazer para retribuir o carinho, disseram que não lhes devolvessem mas que passasse adiante, uma vez que isso era o que eles estavam fazendo. Marcinha ficou orgulhosa do que ouviu. Mordeu os lábios para não falar nada. Ela era como daqueles super heróis mascarados que ninguém sabe quem é ou onde se esconde. Estava feliz por estar dando certo a sua missão. A vovó Lourdes todas as tardes saia para o jardim ver as flores e contar histórias para os amiguinhos de Marcinha, que cada vez aumentavam mais. A vovó das histórias, como ficou conhecida, ensina no final de cada tarde, as crianças a passarem adiante toda ajuda que receberem, pois sempre haverá alguém precisando dela.


By  Liz

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