a ilha

Havia uma ilha. Nesta ilha havia uma aldeia onde moravam todos os sentimentos e atitudes ruins: Orgulho, desprezo, inveja, solidão, ódio, egoísmo, raiva, angustia, vingança, falsidade, tristeza, vaidade, culpa, desespero, medo...e também todos as atitudes e os sentimentos bons: amizade, confiança, misericórdia, solidariedade, amor, perdão, humildade, mansidão, sinceridade, serenidade, alegria, felicidade, segurança.

Cada um vivia ao seu modo.

Na casa do orgulho, não havia a humildade, portanto , um não se confrontava com o outro. Na casa da tristeza não havia alegria, por isso as vida sempre era do mesmo jeito todos os dias. Na casa da misericórdia o desprezo não punha o nariz, desta forma ninguém se machucava.

Enfim, uma ilha como outra qualquer; Um pedaço de terra, cercada de água por todos os lados, porém com moradores pra lá de individualistas, aliás, era uma constante confusão .

Nada de diferente acontecia. Não melhoravam de vida, não evoluíam, não mudavam. O Amor era sempre amor, a Alegria a qualquer hora do dia ou da noite, estava sempre alegre e achando graça de tudo. A Vingança , sempre com a cabeça fervendo, elaborando um plano para se vingar e a Tristeza sempre triste sem nunca sair de casa . O perdão sempre perdoando e esquecendo de tudo e a Inveja sempre com o olho torto...
Cada morador era tão individualista que ninguém sabia o que se passava com o vizinho .
Um dia um Andante passou por esta Ilha e avisou todos os moradores que ela estava prestes a afundar. Que eles precisavam logo rever seus conceitos e valores, mas ninguém ouviu. Afinal, o que um andante velho podia saber? E continuaram a viver na mediocridade de sempre.

Com o passar do tempo, a ilha começou afundar. Os moradores viram- se obrigados a subir morro acima. Foram obrigados a subir tanto, que a cada passo que davam, começaram a perceber que não estavam só, pois o espaço se tornava menor a cada metro de terra que as águas invadiam.
Foi então que o Egoísmo começou a perceber que alguém poderia tomar o que é seu, ou querer emprestado um pouco da sua terra já que ela diminuía gradativamente. Decidiu se unir ao desprezo, a Tristeza cada vez mais triste com o acontecimento se uniu ao desespero, o Ódio com a vingança, a Culpa com o Medo, a Vaidade com a Falsidade ... a solidariedade por fim uniu forças com a Caridade, o Perdão com a Humildade, a Alegria com o Otimismo... Mas isso ,também, não foi suficiente. A Ilha continuava afundando e o espaço ficava cada vez menor. Quando os moradores deram por conta, estavam todos diante uns dos outros.
Diante de estranhos. Tão diferentes e tão próximos.
No começo ficaram espantados depois começaram a reparar as características uns dos outros:
O sorriso da Alegria, as rugas da Tristeza, a cara amarrada do Desprezo, a frieza da Vingança, a clareza da Sinceridade, o calor do Amor, a simpatia da Amizade ... Enfim, nenhum morador passou despercebido. Foi quando no silêncio profundo o Desespero soltou um grito medonho. Restava um mínimo espaço, para todos aqueles moradores querendo um lugar ao sol.

Neste momento, surge ao longe um barquinho, que se aproximava lentamente do que restava da Ilha. Os moradores reconheceram aquele Andante que a tempos atrás avisou- os de que a Ilha poderia afundar. Então começaram a implorar por um lugar no barco para que pudessem se salvar.

Mas era um barco muito pequeno, não cabia ninguém.
O velho vendo que o Desespero começava tomar conta de tudo, se levantou e começou apontar para alguns moradores que estavam quietos em seu cantinho.
Chamou primeiro o Amor, e depois a Caridade, a Alegria, a Amizade, a Sinceridade, a Humildade, o Perdão, a Mansidão... Depois pensou um pouco e apontou para o Orgulho, para o Medo, e para a Tristeza. E disse: " Sobreviverão aqueles que, com força e determinação, suportarem a dor da poda e da provação." e prosseguiu : " A Terra é o coração de vocês e ela só voltará a ser grande e fértil se vocês cultivarem sentimentos bons, porém não é bom ser uma Ilha. Uma Ilha vive isolada e ninguém pode crescer se permanecer isolado se alimentando do seu próprio orgulho ou medo..."
- Mas então, como nós iremos saber quando é hora de nos unir aos outros? Perguntaram o Orgulho e o Medo.
E o velho respondeu: " Há na Terra um momento de reflexão e encontro; poda e rebroto.
Para isso deverão ouvir o que o Amor , a Humildade e a Mansidão têm a dizer..." O velho começou a remar o seu barquinho e quando já estava distante a Amizade gritou " Não sabemos o seu nome?" E o velho respondeu " Tempo... Eu sou o Tempo..."
Mas porque o Tempo? Indagaram intrigados com a situação...

- " Porque só com o Tempo se pode transformar terra árida e seca em terra fértil e produtiva. Só o Tempo pode nos mostrar o que é certo e errado. " Respondeu uma voz diferente e suave, que nunca haviam ouvido antes.

Perceberam não haviam mais os moradores ruins e no lugar deles havia uma nova aliada.
- Quem é você? Perguntou novamente , com muita simpatia, a Amizade.
- Eu sou a Sabedoria.
- Sabedoria... Da onde você veio?
- Eu nasço todas as vezes em que um ser humano aprende que não se deve ser uma
Ilha e que em seu coração só deve existir moradores bons.
 

By  Liz 

Nenhum comentário:

Postar um comentário